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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vida em manchetes

“Para mim, a televisão é muito instrutiva. Quando alguém a liga, corro à estante e pego um bom livro.” – Groucho Marx (1890-1977), comediante norte-americano.


Luís Fernando Veríssimo sempre mostra e questiona situações do cotidiano com muita sensibilidade e bom humor. Na crônica abaixo ele aborda o sensacionalismo utilizado pelos diversos meios de comunicação ao explorar uma desgraça, os momentos de dores e/ou vergonha das pessoas para aumentar audiência, vender seus produtos. Cada caso que acontece é exaustivamente explorado que até desperta medo nas pessoas. Que tal não assistir e /ou ler tais manchetes? Sua saúde agradece. Mas acho que esse personagem exagerou... Veja só:

VIDAS EM MANCHETES

- Viu só? Caiu outro avião.
- É. Desta vez foram 85 mortos.
- Já tomei uma decisão: nunca mais entro em avião.
- Bobagem.
- Bobagem é morrer.
- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de...
- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.
- Você caminha por onde?
- Como, por onde? Pela calçada, ué.
- Dá todo dia no jornal. "Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo". A chamada ironia do destino.
- Quer dizer que calçada...
- É perigosíssimo...
- O negócio é não sair de casa.
- E, é claro, mandar cortar a luz.
- Por que cortar a luz?
- Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. "Caiu da escada quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio."
- Está certo. Corto a luz.
- "Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea". E você vai cozinhar com quê?
- Gás.
- Escapamento. "Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde". Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento."
- Fogareiro a querosene.
- "Tocha humana! Morreu antes que..."
- Comida enlatada fria.
- Botulismo.
- Mando comprar comida fora.
- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia, "Comida estragada, diarréia fatal ".
- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...
- Hepatite...
- ... e oxigênio.
- Poluição. "Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café." Estrôncio 90 francês.
- Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...
- Picada de cobra. Coice de mula. Médico não chega a tempo.
- Não saio mais da cama!
- Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar.
- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.
- Qual é?
- Eu vou me suicidar!

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Para gostar de ler. O nariz, Atica, 2003

7 comentários:

  1. "Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café." RSRSRSRSRS

    Realmente, a única certeza é a morte.

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  2. É... Como vimos na postagem acima, são fatos que acontecem muito e os meios de comunicação se aproveitam disso não se importando com o sofrimento alheio. Algumas manchetes exageram mesmo ao informar esses acontecimentos. Realmente são diversos riscos que corremos na nossa vida, mas não podemos nos impressionar, pois isso seria bobagem. Como é bobagem dar audiência para esses programas e jornais.
    A nossa vida é tão curta... Devemos aproveitá-la e lidar sempre com os desafios.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É como dizem: Não se pode escapar da Morte e dos Impostos! HAHA

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  5. Olá galera...
    Olá Profª...

    Q história em... gostei muito... como vimos não podemos deixar as notícias ruins, as manchetes desastrosas e as catástrofes acabarem com nosso estilo de vida... pois, tudo pode acontecer em qualquer lugar com qualquer pessoa... se ficarmos presos a estas notícias deixaremos de viver e aí sim é um suicídio... uma morte dolorosa, aos poucos...

    A mídia tem um poder de influência muito grande na sociedade, entretanto devemos lembrar q a mídia é, muitas vezes, sensacionalista e em algumas situações até "falta com a verdade" para conseguir público...

    O jeito é viver, claro q tomando as devidas precauções para evitar tais coisas, mas não deixando de viver...

    Bjs Profª!!!

    Até +!!!

    Fui...

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  6. Iza: Lamentável q tudo isso realmente acontece na vida. Mas o autor chama a atenção das manchetes sensacionalistas. E, claro, quer provocar risos ( rsrsrsrsrsrs...), pois se fôssemos ficar com medo de tudo que a TV e jornal mostram, nem sairíamos de casa, não é mesmo? E quanto às certezas, existem tantas outras, minha linda...
    Um beijão com muito carinho pra vc.
    Flávia: concordo plenamente com você. Bobagem é dar audiência p esses programas. Se não tivesse audiência, certamente “eles” não exploravam tanto as desgraças alheias. Muito bom seu comentário. Bjos.
    Thiago: que bom contar com a sua presença aqui novamente!!! É... Não se pode escapar da morte e dos impostos, mas podemos escapar desses programas e ir de encontro a muitas coisas boas... Como a leitura de um livro... Aliás, é o q vc tá fazendo. Eu sei... Parabéns!
    Bjos da profa.
    Carlos: Gostou da crônica? Luís F. Veríssimo sempre faz muitas críticas com um humor bem refinado, bem dele. E vc lembrou muito bem q a mídia às vezes “falta com a verdade”. Não sei se foi proposital o uso do eufemismo, porque a mídia muitas vezes “mente”, distorce e mostra os fatos conforme os seus interesses, fugindo assim da ética jornalística. Infelizmente isso é fato. Beijos pra vc...

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  7. Adoro as crônicas dele. Excelente !

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